Por: Gabriela Krysia e
Karina Sousa
Com a evolução tecnológica e o processo
de globalização, a interação entre diferentes pessoas de diferentes partes do
mundo tem sido cada vez maior. Novos sistemas são criados, facilitando a
comunicação. As mídias sociais surgem como meios rápidos e acessíveis de
interação entre as pessoas através de sistemas online, Facebook, Skype e LinkedIn são alguns exemplos. Além deles
há ainda, o rádio, o jornal, a TV, entre tantos outros meios de comunicação em
massa. Através desses canais, há comunicação, troca de informações,
propagandas, compra e venda de produtos, formação de novas amizades e expansão
das relações interpessoais.
Esta
imagem apresenta alguns exemplos de mídias sociais conhecidas e utilizadas atualmente.
Cada uma proporciona uma finalidade de uso, o Pinterest e Instagram para quem
gosta de imagens, o Vimeo para compartilhar vídeos e o LinkedIn como uma rede
social voltada para o trabalho, desse modo eles conquistam seu público alvo. E com uma oferta tão variada se torna comum
que um usuário possua contas ou “perfis” em vários sites. De acordo com o Guia Mídia e Direitos Humanos (2014, p.6), a
mídia é compreendida como um espaço público fundamental de formação de
imaginários, representações, hierarquias e identidades. Sendo assim, é possível
afirmar que crianças e adolescentes podem ser influenciados pelos conteúdos
midiáticos.
As
plataformas voltadas a esse público, como os “games”, desenhos animados,
programas de TV, filmes, blogs, sites de jogos, redes sociais, entre outros,
acabam cumprindo seu objetivo, conquistando a atenção e fidelidade de seu
público. A respeito dos conteúdos exibidos pela mídia, Feijó e Oliveira (2001,
p.126) afirmam o seguinte: “sendo um dos
principais alvos para o consumo, as crianças e adolescentes recebem diariamente
informações através da mídia, as quais, muitas vezes, são inadequadas as suas necessidades
ou desproporcionais a sua fase de desenvolvimento, gerando uma simplificação e
banalização de conceitos éticos, morais e sexuais”.
Dessa
forma, é importante pensar acerca da qualidade do que está sendo ofertado às
crianças e adolescentes, considerar o que é recomendado para cada idade
(classificação indicativa), bem como pensar em limites e cuidados necessários à
segurança desse público. É uma questão que merece reflexão, visto que a
crescente influência exercida pelas redes, exige cuidados por parte dos seus
usuários já que são ferramentas que integram informação, cultura e
entretenimento, mas que também podem trazer prejuízos psicológicos, emocionais
e sociais.
Com
relação às questões morais, elas são construídas durante
o desenvolvimento do sujeito, através das experiências vividas. Lima (2004,
p.14) traz o exemplo da pesquisa de Jean Piaget, “Juízo Moral na Criança”, onde
ele apresentou a existência de dois
períodos da experiência do indivíduo com a moralidade. Inicialmente, o adulto
exerce um controle externo sobre o juízo moral da criança. São as coisas
exteriores, a ordem dada pelo adulto, os exemplos dos mais velhos nas
brincadeiras, as cópias, os modelos, que “obrigam” o indivíduo a selecionar
seus comportamentos em face de sua aceitação/participação no grupo. É a moral
heterônoma. À medida que uma série
de condições psicológicas se estabelecem, como a capacidade de raciocínio
lógico e reversível, as estruturas do indivíduo possibilitam uma tomada de
consciência sobre a forma como as regras são construídas e sobre a
possibilidade de mudá-las. É chegada a moral autônoma.
Dito isto, é
importante entender que as crianças e adolescentes estão em processo de
desenvolvimento, não apenas físico, mas também de formação de valores e regras
morais. Por isso, diante de um conteúdo midiático é interessante investigar a
intenção do conteúdo e o valor que aquilo proporcionará à criança. A fim de ilustrar algumas possíveis
influências geradas por algumas mídias destacamos os seguintes exemplos:
WAR é um jogo de estratégia de guerra,
e pode ser jogado em tabuleiro ou online. É indicado para crianças a partir dos
10 anos e adolescentes. Trabalha a atenção e reflexão estratégica, além de
desenvolver a comunicação e socialização. Isso pode ocorrer tanto no jogo de
tabuleiro, quanto no jogo online, já que há interação com jogadores que estão
conectados à rede.
A criação de um blog permite ao usuário
expressar sua identidade e opinião. É um espaço para escrever temas de seu
interesse, podendo ser desde o seu cotidiano, a questões como política,
economia ou arte. Também é um espaço de interação social, visto que o “blogueiro”
pode interagir com os leitores e com outros “blogueiros”. Vale salientar que
cada pessoa é responsável pelo que escreve, sendo assim é importante ser ético,
ter uma conduta adequada às regras da sociedade e saber respeitar os limites
entre liberdade de expressão e ferir os direitos do outro.
Alguns
filmes e desenhos animados apesar de se mostrarem inofensivos, muitas vezes
promovem violência. A respeito dessa violência, Gomide (2010) cita o estudo de
laboratório de Bandura e Iñesta (1973/1975) onde foi constatado o seguinte:
A
maioria dos heróis de filmes violentos (Stallone, Van Dame, Bruce Lee etc.) justificam
seu comportamento violento por estar em defesa de valores sociais ligados à
família, governo, território etc. Essa justificativa permite que participantes,
após assistirem muitas horas de programas violentos, deixem de considerar
aqueles comportamentos agressivos como desviantes, e passem a aceitá-los como
maneira apropriada para resolver problemas da vida real (GOMIDE, 2010, p.130).
Uma indagação fica: O que fazer quando uma criança ou
adolescente justificar um ato de violência através da defesa de algum valor?
No que se refere ao respeito dos direitos da criança e do
adolescente, o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) veio para
regulamentar o artigo 227 da Constituição Federal de 1988 que estabelece como
dever da família, da sociedade e do Estado “assegurar à criança, ao adolescente
e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação,
à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de
colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão”.
Diante
disso o mundo das mídias (TV, jornal, internet etc.), compartilham da
responsabilidade de assegurar a criança e ao jovem
esse direito. Todavia, diariamente é possível se deparar com o oposto. A
precoce erotização, a violência constantemente transmitida através dos games
"interativos", a inversão de valores morais e éticos são apenas
exemplos que passam sutilmente despercebidos em revistas, sites, outdoors,
televisão e outras mídias.
Nesse caso, é importante questionar, não apenas as possíveis
influências para quem vê esse tipo de propaganda (querer imitar, por exemplo),
mas também levar em consideração que existe uma criança ou adolescente que
está, de fato, empenhada na realização daquele trabalho, e essas experiências,
muitas vezes inadequadas à fase vivida pela criança, poderão ocasionar a banalização
de conceitos éticos, morais e sexuais, como já citado anteriormente.
É interessante relembrar, a ideia de moral heterônoma, de
Piaget, quando a criança ainda não é capaz de controlar seu juízo moral, sendo
dessa forma, dependente da ordem dada pelo adulto. No caso das crianças, elas
ainda não compreendem questões morais como os adultos, e por esse motivo se
espera que o adulto seja responsável por resguardar os direitos de respeito e
evitar a exploração inadequada da imagem infantil.
Por fim, é bom
reforçar a ideia de que a mídia não deve ser vista como algo negativo, já que
também proporciona conteúdos sadios, educativos e que promovem cultura. Ela
proporciona informação e rápida comunicação, e isso, possivelmente fará parte de
uma experiência positiva vivenciada pelas crianças e adolescentes. A questão
central talvez seja atentar no cuidado que deve ser tomado, pelos adultos, em
conhecer o que as crianças e adolescentes estão tendo acesso e que podem
influenciá-las negativamente. E além disso questionar a ética de determinado
conteúdo, assim como lutar para que os direitos das crianças e adolescentes
sejam garantidos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. [Constituição
(1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil : texto constitucional
promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas Emendas
Constitucionais nos 1/1992 a 68/2011, pelo Decreto Legislativo nº 186/2008 e
pelas Emendas Constitucionais de Revisão nos 1 a 6/1994. – 35. ed. – Brasília :
Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2012. 454 p. – (Série textos básicos ; n.
67).
FEIJÓ, R.B. & OLIVEIRA,
E.M. (2001) Comportamento de risco na adolescência. Jornal de Pediatria (Rio Janeiro) 2001; 77
(supl.2): [pp.125-134]
GOMIDE, Paula Inez Cunha. A influência
de filmes violentos em comportamento agressivo de crianças e adolescentes.
Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre , v. 13, n. 1, p.
127-141, 2000 .
GUIA MÍDIA E DIREITOS
HUMANOS / Iara Moura (autora) e Paulo Victor Melo (coordenador) – 1. Ed. - São
Paulo: Intervozes, 2014
LIMA, Vanessa
Aparecida Alves de. De Piaget a Gilligan: retrospectiva do desenvolvimento
moral em psicologia um caminho para o estudo das virtudes. Psicol. cienc.
prof., Brasília, v. 24, n. 3, p. 12-23, Set.
2004 .
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