quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Crianças, Adolescentes e as Interfaces da Mídia Social

Por: Gabriela Krysia e Karina Sousa

      Com a evolução tecnológica e o processo de globalização, a interação entre diferentes pessoas de diferentes partes do mundo tem sido cada vez maior. Novos sistemas são criados, facilitando a comunicação. As mídias sociais surgem como meios rápidos e acessíveis de interação entre as pessoas através de sistemas online, Facebook, Skype e LinkedIn são alguns exemplos. Além deles há ainda, o rádio, o jornal, a TV, entre tantos outros meios de comunicação em massa. Através desses canais, há comunicação, troca de informações, propagandas, compra e venda de produtos, formação de novas amizades e expansão das relações interpessoais.




Esta imagem apresenta alguns exemplos de mídias sociais conhecidas e utilizadas atualmente. Cada uma proporciona uma finalidade de uso, o Pinterest e Instagram para quem gosta de imagens, o Vimeo para compartilhar vídeos e o LinkedIn como uma rede social voltada para o trabalho, desse modo eles conquistam seu público alvo.  E com uma oferta tão variada se torna comum que um usuário possua contas ou “perfis” em vários sites. De acordo com o Guia Mídia e Direitos Humanos (2014, p.6), a mídia é compreendida como um espaço público fundamental de formação de imaginários, representações, hierarquias e identidades. Sendo assim, é possível afirmar que crianças e adolescentes podem ser influenciados pelos conteúdos midiáticos.
As plataformas voltadas a esse público, como os “games”, desenhos animados, programas de TV, filmes, blogs, sites de jogos, redes sociais, entre outros, acabam cumprindo seu objetivo, conquistando a atenção e fidelidade de seu público. A respeito dos conteúdos exibidos pela mídia, Feijó e Oliveira (2001, p.126) afirmam o seguinte: “sendo um dos principais alvos para o consumo, as crianças e adolescentes recebem diariamente informações através da mídia, as quais, muitas vezes, são inadequadas as suas necessidades ou desproporcionais a sua fase de desenvolvimento, gerando uma simplificação e banalização de conceitos éticos, morais e sexuais”.
Dessa forma, é importante pensar acerca da qualidade do que está sendo ofertado às crianças e adolescentes, considerar o que é recomendado para cada idade (classificação indicativa), bem como pensar em limites e cuidados necessários à segurança desse público. É uma questão que merece reflexão, visto que a crescente influência exercida pelas redes, exige cuidados por parte dos seus usuários já que são ferramentas que integram informação, cultura e entretenimento, mas que também podem trazer prejuízos psicológicos, emocionais e sociais.
Com relação às questões morais, elas são construídas durante o desenvolvimento do sujeito, através das experiências vividas. Lima (2004, p.14) traz o exemplo da pesquisa de Jean Piaget, “Juízo Moral na Criança”, onde ele apresentou a existência de dois períodos da experiência do indivíduo com a moralidade. Inicialmente, o adulto exerce um controle externo sobre o juízo moral da criança. São as coisas exteriores, a ordem dada pelo adulto, os exemplos dos mais velhos nas brincadeiras, as cópias, os modelos, que “obrigam” o indivíduo a selecionar seus comportamentos em face de sua aceitação/participação no grupo. É a moral heterônoma. À medida que uma série de condições psicológicas se estabelecem, como a capacidade de raciocínio lógico e reversível, as estruturas do indivíduo possibilitam uma tomada de consciência sobre a forma como as regras são construídas e sobre a possibilidade de mudá-las. É chegada a moral autônoma.
         Dito isto, é importante entender que as crianças e adolescentes estão em processo de desenvolvimento, não apenas físico, mas também de formação de valores e regras morais. Por isso, diante de um conteúdo midiático é interessante investigar a intenção do conteúdo e o valor que aquilo proporcionará à criança. A fim de ilustrar algumas possíveis influências geradas por algumas mídias destacamos os seguintes exemplos:
 
WAR é um jogo de estratégia de guerra, e pode ser jogado em tabuleiro ou online. É indicado para crianças a partir dos 10 anos e adolescentes. Trabalha a atenção e reflexão estratégica, além de desenvolver a comunicação e socialização. Isso pode ocorrer tanto no jogo de tabuleiro, quanto no jogo online, já que há interação com jogadores que estão conectados à rede.

A criação de um blog permite ao usuário expressar sua identidade e opinião. É um espaço para escrever temas de seu interesse, podendo ser desde o seu cotidiano, a questões como política, economia ou arte. Também é um espaço de interação social, visto que o “blogueiro” pode interagir com os leitores e com outros “blogueiros”. Vale salientar que cada pessoa é responsável pelo que escreve, sendo assim é importante ser ético, ter uma conduta adequada às regras da sociedade e saber respeitar os limites entre liberdade de expressão e ferir os direitos do outro.



 Alguns filmes e desenhos animados apesar de se mostrarem inofensivos, muitas vezes promovem violência. A respeito dessa violência, Gomide (2010) cita o estudo de laboratório de Bandura e Iñesta (1973/1975) onde foi constatado o seguinte:
A maioria dos heróis de filmes violentos (Stallone, Van Dame, Bruce Lee etc.) justificam seu comportamento violento por estar em defesa de valores sociais ligados à família, governo, território etc. Essa justificativa permite que participantes, após assistirem muitas horas de programas violentos, deixem de considerar aqueles comportamentos agressivos como desviantes, e passem a aceitá-los como maneira apropriada para resolver problemas da vida real (GOMIDE, 2010, p.130).

Uma indagação fica: O que fazer quando uma criança ou adolescente justificar um ato de violência através da defesa de algum valor?
         No que se refere ao respeito dos direitos da criança e do adolescente, o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) veio para regulamentar o artigo 227 da Constituição Federal de 1988 que estabelece como dever da família, da sociedade e do Estado “assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.
Diante disso o mundo das mídias (TV, jornal, internet etc.), compartilham da responsabilidade de assegurar a criança e ao jovem esse direito. Todavia, diariamente é possível se deparar com o oposto. A precoce erotização, a violência constantemente transmitida através dos games "interativos", a inversão de valores morais e éticos são apenas exemplos que passam sutilmente despercebidos em revistas, sites, outdoors, televisão e outras mídias.



Nesse caso, é importante questionar, não apenas as possíveis influências para quem vê esse tipo de propaganda (querer imitar, por exemplo), mas também levar em consideração que existe uma criança ou adolescente que está, de fato, empenhada na realização daquele trabalho, e essas experiências, muitas vezes inadequadas à fase vivida pela criança, poderão ocasionar a banalização de conceitos éticos, morais e sexuais, como já citado anteriormente.
É interessante relembrar, a ideia de moral heterônoma, de Piaget, quando a criança ainda não é capaz de controlar seu juízo moral, sendo dessa forma, dependente da ordem dada pelo adulto. No caso das crianças, elas ainda não compreendem questões morais como os adultos, e por esse motivo se espera que o adulto seja responsável por resguardar os direitos de respeito e evitar a exploração inadequada da imagem infantil.
Por fim, é bom reforçar a ideia de que a mídia não deve ser vista como algo negativo, já que também proporciona conteúdos sadios, educativos e que promovem cultura. Ela proporciona informação e rápida comunicação, e isso, possivelmente fará parte de uma experiência positiva vivenciada pelas crianças e adolescentes. A questão central talvez seja atentar no cuidado que deve ser tomado, pelos adultos, em conhecer o que as crianças e adolescentes estão tendo acesso e que podem influenciá-las negativamente. E além disso questionar a ética de determinado conteúdo, assim como lutar para que os direitos das crianças e adolescentes sejam garantidos.

REFERÊNCIAS

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil : texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas Emendas Constitucionais nos 1/1992 a 68/2011, pelo Decreto Legislativo nº 186/2008 e pelas Emendas Constitucionais de Revisão nos 1 a 6/1994. – 35. ed. – Brasília : Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2012. 454 p. – (Série textos básicos ; n. 67).
FEIJÓ, R.B. & OLIVEIRA, E.M. (2001) Comportamento de risco na adolescência. Jornal de        Pediatria (Rio Janeiro) 2001; 77 (supl.2): [pp.125-134]
GOMIDE, Paula Inez Cunha. A influência de filmes violentos em comportamento agressivo de crianças e adolescentes. Psicol. Reflex. Crit.,  Porto Alegre ,  v. 13, n. 1, p. 127-141,   2000 .
GUIA MÍDIA E DIREITOS HUMANOS / Iara Moura (autora) e Paulo Victor Melo (coordenador) – 1. Ed. - São Paulo: Intervozes, 2014
LIMA, Vanessa Aparecida Alves de. De Piaget a Gilligan: retrospectiva do desenvolvimento moral em psicologia um caminho para o estudo das virtudes. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 24, n. 3, p. 12-23, Set.  2004 .

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