Por: Arthur Galhardo, Clóvis Lira e
Victor Chalegre
O que o pensador Michel Foucault e
suas ideias têm de relevante para o Brasil e, melhor ainda, para os brasileiros
que encontram, neste primeiro suspiro do terceiro milênio, uma enxurrada de
dilemas, polêmicas e questionamentos morais tão inquietantes que parecem levar
o país a um grau de tumulto político e as pessoas a um nível de turbulência que
não era visto – se foi visto algum dia – há muito tempo?
Os
brasileiros vêm, desde a ditadura militar, "renovando o armário" do país e
mudando drasticamente a forma como a nação se "veste". As visitas de Foucault ao
“país do futebol e da mulher pelada” nos anos 1970 contribuíram sensivelmente
para a já mencionada inquietação que se desenvolve(u) aqui. Em palestras e
mesas redondas – todas absolutamente lotadas – ele causou um impacto que,
segundo a Folha de S. Paulo, “ultrapassou a simples exposição de ideias em sala
de aula” (As viagens de Foucault ao Brasil, Rafael Cariello).
O
pensamento de Foucault e o seu impacto na sociedade brasileira não se resume ao
seu repúdio declarado à ditadura militar da época, mas se compatibiliza hoje
com a forma na qual as pessoas são e atuam na sociedade e no mundo. As formas
de subjetivação e de sujeição das pessoas frente aos códigos de conduta e às
regras da sociedade observadas por ele se tornam nítidas aos olhos de quem
passa a conhecê-lo um pouco mais. Um exemplo
disso, como pode ser visto na tirinha, traduzida livremente, de Malcolm Evans,
é comum se perceber um estranhamento por parte dos sujeitos quando têm a
oportunidade de entrar em contato com culturas diferentes de suas próprias.
“A
moral é um conjunto de valores e regras de ação propostas a indivíduos e aos
grupos por intermédio de aparelhos prescritivos diversos, como a família, as
instituições educativas, e as igrejas'' (Foucault, 2001). Essas regras e valores são atribuídas pelas
instituições explicitamente, mas a moral ultrapassa esta condição. Sendo
distribuída por todo o corpo social, ela constitui um jogo complexo de formas,
que estão em relação constante, podendo se anular, compensar e corrigir.
Este conjunto maior chama-se código moral. O
comportamento do indivíduo é um jogo entre o código moral e sua conduta real,
assim o indivíduo pode se submeter à determinada norma, regra ou valor de
várias maneiras. Assim para determinada regra de conduta existem maneiras de se
comportar, modos de sujeição. O corpo social, as instituições esquadrinham o
corpo do indivíduo, são mecanismos disciplinadores, que controlam os indivíduos
e assim os tornam dóceis, sem mesmo perceberem isso.
O
clip The Wall da banda britânica Pink Ployd trata justamente dessa questão,
onde a escola é uma instituição que dociliza os sujeitos e os enquadrando em
moldes preconcebidos do que seria um aluno ideal.
VIDEO:
https://www.youtube.com/watch?v=vrC8i7qyZ2w
Segundo
Dreyfus (DREYFUS; RABINOW, p. 165 apud BLACKER,
2002, p. 187), Foucault fala que ''as
pessoas sabem o que fazem; elas frequentemente sabem o porquê fazem o que fazem;
mas o que elas não sabem é o que faz (causa) aquilo que elas fazem.'' Assim as
instituições modelam a alma através dos corpos, atavés de técnicas de controle
disciplinar, formulas pelas quais o poder se exemplifica, que são classificados
por escala, objeto e modalidade.
Porém
Foucault, ao trazer o conceito de Sujeito Moral, mostra como é possível se
portar nestas condições de controle disciplinar que existem hoje. Ele diz que “uma coisa é uma regra de
conduta; outra, a conduta que se pode medir a essa regra. Mas outra coisa é
necessário conduzir-se ainda é a maneira pela qual é necessário conduzir-se” (Foucault,
2001). Esta condução segundo Foucault é “maneira pela qual se deve constituir a
si mesmo como sujeito moral, agindo em referência aos elementos prescritivos
que constituem o código” (Foucault, 2001).
Referências:
RAFAEL CARIELLO, Folha de São
Paulo. As viagens de Foucault ao Brasil. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/918570-as-viagens-de-foucault-ao-brasil.shtml.
Acesso em: 09 de junho. 2015.
BLACKER, D.
“Foucault e a responsabilidade intelectual”. In: DA SILVA, Tomaz Tadeu (Org.). O
sujeito da Educação, 2002, p. 155-72.
FOUCAULT, Michel,. História da sexualidade 2: o
uso dos prazeres . 10.ed. Rio de Janeiro: Graal, 2001. 232 p.
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