terça-feira, 14 de julho de 2015

Foucault, Brasil e Ética

                Por: Arthur Galhardo, Clóvis Lira e Victor Chalegre

                 O que o pensador Michel Foucault e suas ideias têm de relevante para o Brasil e, melhor ainda, para os brasileiros que encontram, neste primeiro suspiro do terceiro milênio, uma enxurrada de dilemas, polêmicas e questionamentos morais tão inquietantes que parecem levar o país a um grau de tumulto político e as pessoas a um nível de turbulência que não era visto – se foi visto algum dia – há muito tempo?
            Os brasileiros vêm, desde a ditadura militar, "renovando o armário" do país e mudando drasticamente a forma como a nação se "veste". As visitas de Foucault ao “país do futebol e da mulher pelada” nos anos 1970 contribuíram sensivelmente para a já mencionada inquietação que se desenvolve(u) aqui. Em palestras e mesas redondas – todas absolutamente lotadas – ele causou um impacto que, segundo a Folha de S. Paulo, “ultrapassou a simples exposição de ideias em sala de aula” (As viagens de Foucault ao Brasil, Rafael Cariello).

              O pensamento de Foucault e o seu impacto na sociedade brasileira não se resume ao seu repúdio declarado à ditadura militar da época, mas se compatibiliza hoje com a forma na qual as pessoas são e atuam na sociedade e no mundo. As formas de subjetivação e de sujeição das pessoas frente aos códigos de conduta e às regras da sociedade observadas por ele se tornam nítidas aos olhos de quem passa a conhecê-lo um pouco mais. Um exemplo disso, como pode ser visto na tirinha, traduzida livremente, de Malcolm Evans, é comum se perceber um estranhamento por parte dos sujeitos quando têm a oportunidade de entrar em contato com culturas diferentes de suas próprias.


            “A moral é um conjunto de valores e regras de ação propostas a indivíduos e aos grupos por intermédio de aparelhos prescritivos diversos, como a família, as instituições educativas, e as igrejas'' (Foucault, 2001). Essas regras e valores são atribuídas pelas instituições explicitamente, mas a moral ultrapassa esta condição. Sendo distribuída por todo o corpo social, ela constitui um jogo complexo de formas, que estão em relação constante, podendo se anular, compensar e corrigir.
             Este conjunto maior chama-se código moral. O comportamento do indivíduo é um jogo entre o código moral e sua conduta real, assim o indivíduo pode se submeter à determinada norma, regra ou valor de várias maneiras. Assim para determinada regra de conduta existem maneiras de se comportar, modos de sujeição. O corpo social, as instituições esquadrinham o corpo do indivíduo, são mecanismos disciplinadores, que controlam os indivíduos e assim os tornam dóceis, sem mesmo perceberem isso.
            O clip The Wall da banda britânica Pink Ployd trata justamente dessa questão, onde a escola é uma instituição que dociliza os sujeitos e os enquadrando em moldes preconcebidos do que seria um aluno ideal.

 VIDEO: https://www.youtube.com/watch?v=vrC8i7qyZ2w

            Segundo Dreyfus (DREYFUS; RABINOW, p. 165 apud BLACKER, 2002, p. 187), Foucault fala que ''as pessoas sabem o que fazem; elas frequentemente sabem o porquê fazem o que fazem; mas o que elas não sabem é o que faz (causa) aquilo que elas fazem.'' Assim as instituições modelam a alma através dos corpos, atavés de técnicas de controle disciplinar, formulas pelas quais o poder se exemplifica, que são classificados por escala, objeto e modalidade.
            Porém Foucault, ao trazer o conceito de Sujeito Moral, mostra como é possível se portar nestas condições de controle disciplinar que existem hoje.  Ele diz que “uma coisa é uma regra de conduta; outra, a conduta que se pode medir a essa regra. Mas outra coisa é necessário conduzir-se ainda é a maneira pela qual é necessário conduzir-se” (Foucault, 2001). Esta condução segundo Foucault é “maneira pela qual se deve constituir a si mesmo como sujeito moral, agindo em referência aos elementos prescritivos que constituem o código” (Foucault, 2001).




Referências:
RAFAEL CARIELLO, Folha de São Paulo. As viagens de Foucault ao Brasil. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/918570-as-viagens-de-foucault-ao-brasil.shtml. Acesso em: 09 de junho. 2015.
BLACKER, D. “Foucault e a responsabilidade intelectual”. In: DA SILVA, Tomaz Tadeu (Org.). O sujeito da Educação, 2002, p. 155-72.

FOUCAULT, Michel,. História da sexualidade 2o uso dos prazeres . 10.ed. Rio de Janeiro: Graal, 2001. 232 p.

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