Por: Nathália Christine Mendonça Nery,
Sofia Holmes Carvalho e
Tamara Rodrigues Araújo
Constantemente
nos questionamos por que as coisas tristes acontecem ou por que fazemos algo
que possivelmente vamos nos arrepender. Se você está estudando e sente que está
na hora de fazer um lanche, vai até a cozinha e se depara com um bolo de rolo
saído do forno, o come mesmo sabendo que precisa manter a forma para se
encaixar nos padrões de beleza estabelecidos pela sociedade. O sentimento de
culpa surge com o arrependimento, e você geralmente é tomado pela ideia de que
não há como se livrar desses desejos, tirando de si a responsabilidade do seu
ato. Por outro lado, existem meios de livrar-se dos quilinhos a mais através de
uma alimentação controlada aliada a prática de exercícios físicos regulares,
solução essa que só depende de um maior domínio sobre seus desejos.
O
exemplo acima origina duas vertentes de deliberação: a primeira, que tenta
buscar ideias para explicar os acontecimentos a partir da tese de que não
existe liberdade para decidirmos nossa própria conduta devido a uma força
superior que a tudo manipula; e a segunda, que garante que somos responsáveis
por nossa conduta e que podemos mudar o sentido dos fatos de acordo com nossas
atitudes, sendo assim, uma necessidade moral.
Quando
falamos de moral, estamos nos referindo ao conjunto de valores, de normas e de
noções do que é certo ou errado, proibido e permitido que ditam as regras
sociais de convivência, de forma que um ser moral é aquele que é capaz de
seguir e se adequar as regras da sociedade. A grande questão é identificar se o
importante é seguir as regras sem significá-la e apenas obedecê-la; ou se é
possibilitar a liberdade de cada um de seguir o que se acha importante para a
sociedade.
Trazendo
esse contexto para o âmbito educacional, é possível observar que as escolas
preconizam uma educação “desmoralizante”, pois ensinam mais a obediência do que
a vivência em liberdade, originando a falsa ideia de que o cumprimento de
regras é diretamente proporcional à responsabilidade. Esta, diferentemente de submissão,
exige a consciência da norma obedecida, seus valores e sua posição como
sujeitos de uma relação moral.
O
dilema acima nos remete aos ideais pregados pelos filósofos Platão e
Aristóteles, que em seus discursos tematizaram as principais questões éticas
que perduram até os dias atuais. Agir com a reta-razão para o atingimento do
bem é, segundo tais filósofos, uma ação politicamente virtuosa. Para Platão, o
governo ideal é aquele em que o filósofo, por conhecer as coisas em sua
essência, estabelece as leis, cabendo aos cidadãos apenas a obediência, uma vez
que não possuem a habilidade desse conhecimento. A concepção de virtude,
adormecida em cada uma das pessoas, seria a de obediência formal às normas,
sendo estas necessariamente boas. No cenário escolar, é possível comparar tal
pensamento ao cumprimento das regras propostas pela instituição, supostamente
boas e corretas.
Por
outro lado, Aristóteles defende que aquele que apenas obedece não age
necessariamente de maneira moralmente relevante, exigindo-se dele a consciência
do bem no agir moral. Para o filósofo, e ao contrário de Platão, a virtude
resulta da prática, do exercício do bem de acordo com a reta-razão. Essa razão
refere-se ao meio termo que podemos optar ao deliberar sobre algo, é a opção situada
entre os extremos e que nos dirige às virtudes.
Ao
pensar a questão das normas, é possível refletir: será que é tão merecedor de
prêmios aquele que obedece a uma lei sem sequer ter a mínima noção do que
significa sua obediência? Para Platão sim, pois apenas os filósofos, uns poucos
dentre os cidadãos da polis, poderiam de fato ter consciência dos valores e
consequências de seus atos. Já Aristóteles responderia não, pois acreditava que
todo homem é dotado de razão e, por isso, capaz de compreender suas ações e escolhas.
A
educação para a moral, que nos exige também viver a liberdade e as angústias
trazidas por esta, não se satisfaz com a simples obediência, sem saber dos
porquês e das consequências. Não basta apenas indicar o certo e o errado, mas
instigar a tomada de consciência por parte dos alunos, através da liberdade
moral que, por sua vez, implica vivenciar essa livre escolha. Em um exemplo
grosseiro, podemos comparar com andar de bicicleta: por mais que existam
instruções, o aprendizado se efetiva com a prática e com a experiência das quedas
e dos movimentos falhos até alcançarmos o equilíbrio.
Educar
para a moral, nesse sentido, exige um projeto e atitudes que extrapolem a sala de
aula, como a experiência do exercício da liberdade em que o aluno é tratado com
respeito e confiança, mas a ele também são dadas responsabilidades. O papel da
instituição, além de garantir essa liberdade, seria o de valorizar esse
processo de demonstração de consciência dos valores morais envolvidos nas
atitudes praticadas pelo aluno e pelos outros.
Conhecer
as regras e valores da sociedade à qual pertence faz parte desse processo de
conscientização, mas ainda é preciso levar em conta o aspecto social envolvido.
Como campo dinâmico, a ética não se constitui de um livro com as verdades do
bem e do mal, mas em constante mudança em todo e qualquer grupo social.
Compreender esse movimento de construção e desconstrução nos torna hábeis a
reconhecer que não apenas os professores e demais responsáveis pelas
instituições de ensino sejam educadores do comportamento moral, mas todo
indivíduo que componha o espaço social.
Referências
- BARROS FILHO, Clóvis de et al, Os limites do
fatalismo. Coleção ética: pensar a vida e viver o pensamento, São Paulo: Duetto
Editorial, v.3, p. 16-21, março/abril. 2011.
- MARCONDES, Danilo. Textos básicos de ética: de
Platão a Foucault. 5 Ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
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