Por: Joanna Luiza da
Cunha Pontes e
Bruna Mirelle Gomes da
Silva
As redes sociais como facebook, twitter, youtube,
instagram etc., vêm cada vez mais ganhando espaço em nossas vidas,
principalmente no campo das relações interpessoais. E o que chama mais atenção
é o modo como as pessoas se posicionam para expor seu ponto de vista nas
diversas postagens e comentários que são publicados.
Trazemos à tona o caso de Amanda Todd, uma
adolescente canadense que cometeu suicídio após ser vítima de cyberbulliyng,
também chamado de violência virtual. Ela havia mostrado os seios no webcam para
um estranho através de um chat na internet. Um tempo depois o conteúdo passou a
circular nos ambientes de convívio social da adolescente, como a escola em que
estudava e também na internet acompanhado de comentários que expressavam ódio e
teor ofensivo. Assista ao vídeo: (A história de Amanda Todd
https://www.youtube.com/watch?v=gikbgGOE5II)
É justamente sobre esses típicos comportamentos
online que iremos discutir. Chamamos de haters e trolls os autores de postagens
deste tipo, o primeiro grupo é caracterizado por posicionamentos odiosos e
extremistas, “odiadores que odeiam”, mais conhecido no inglês como:
“haters gonna hate”. Estes, por sua vez se alimentam de posturas contrárias
dirigidas aos seus comentários, fomentando uma grande discussão, na qual eles
irão sempre se posicionar no seu viés de confirmação. Já o segundo grupo é
composto por internautas que postam com o intuito de provocar reações
antipáticas, ou seja, seu combustível é a atenção, eles têm o prazer em lançar
a faísca para ver o negócio pegar fogo. É uma prática tão comum que trollar já
virou um verbo informal. A sequência de comentários que poderia ser um diálogo
nas redes sociais, na verdade se aprisiona em posições conformistas e
provocações que fazem crescer o sentimento de ódio e irritação [1].
Você já se perguntou porque esse comportamento fica
mais nítido nas páginas da internet do que em situações cotidianas, como nas
filas de banco, na praça, no shopping etc.? Teria o mundo virtual uma porta de
entrada que não encontramos fora dele? O anonimato pode ser uma, já que uma vez
o indivíduo não sendo identificado também não pode ser punido. Desse modo
percebemos que a sensação de impunidade abre margem para uma interpretação
“equivocada” de liberdade e isso os leva a agir de forma incoerente nas redes
sociais em relação às normas de condutas que regem a sociedade, no que diz respeito
às relações interpessoais.
Tomamos tal interpretação como equivocada pelo fato
de que a liberdade existe em dois âmbitos: potencialidade e praticidade . A
primeira como o próprio termo já diz é o potencial que cada indivíduo possui de
atuar no meio; por outro lado temos a liberdade enquanto prática, limitada
pelas regras que ditam o que, onde, como e quando nós podemos agir. No caso dos
haters e dos trolls, podemos encarar suas atitudes como sendo uma prática de
liberdade? Ou seria um abuso do anonimato?
(www.google.com)
Na tirinha acima podemos extrair as noções de
liberdade, punição e anonimato dentro e fora da internet. A partir do Mito do
Anel de Giges trazido em Platão [2] pode-se perceber que os homens só são
justos porque temem a punição de seus atos, ou seja, “deem a um indivíduo o
poder de fazer o que ele quiser e ele não hesitará em agir de forma injusta e
de acordo com seu interesse particular”. O que nos faz pensar em uma das
grandes controvérsias no âmbito ético que vem sendo discutida há muitos séculos
a partir de Sócrates: o medo da punição garante a conduta ética?
A internet não é um campo amoral, onde tudo é
permitido sem a existência de consequências, principalmente no tocante às
questões psicológicas. É quase
impossível controlar a circulação dos conteúdos publicados pelos haters e
trolls, é aí que atuam os chamados “garis digitais”. São eles que na medida do
possível “limpam” os comentários e mesmo assim não conseguem dar conta de tudo,
como aconteceu no caso de Amanda, as fotos dos seus seios divulgadas na
internet tiveram tanta repercussão que as consequências culminaram em
ansiedade, depressão severa e síndrome do pânico, foi tanta pressão que ela
desistiu de viver cometendo suicídio por enforcamento.
Segundo Stuart Mill, atitudes éticas são definidas
a partir de ações benéficas a um maior número de indivíduos em detrimento de
suas consequências e resultados, o que chamamos de utilitarismo. O bem para ele
é o que maximiza o benefício e reduz o sofrimento. Considerando que os
internautas tomam os haters e os trolls como os “inimigos da internet”
começamos a nos perguntar: teria isso alguma relação benéfica? Os diversos
posts ofensivos e odiosos causam muito mais sofrimento do que bem estar, no
caso de Amanda, levando a mesma a tirar sua própria vida, sem falar as atitudes
de esquiva de várias pessoas que chegam a fazer tutoriais ensinando a outrem
sobre como lidar com eles caso vierem a ser vítimas.
Como relacionar as atitudes desses “vilões” com o
bem se o termo “inimigo” já remete a algo mal, que ofende, que odeia e provoca
mal estar? Princípios éticos de conduta diária acabam sendo deixados de lado,
como se o respeito ao próximo e o impacto de atitudes na vida do outro não
tivesse a mínima importância; como se essas pessoas não conseguissem colocar-se
no lugar de quem está sofrendo do outro lado. Ética não se resume apenas em
regras de conduta, bem e mal, certo e errado, ética também existe enquanto
cuidado consigo e com o próximo.
[1] Prado, A. (2014, Outubro) O Terrível Mundo dos
Comentários na Internet. Super Interessante. Ed. 338. p- 56-61.
[2 e 3] Marcondes, D.(1953). Platão. In:________
Textos básicos de ética: de Platão a Foucault. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
Nenhum comentário:
Postar um comentário